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sábado, 9 de maio de 2009

O Futuro do Técnico de Informática - Entrevista Laércio Vasconcelos

Estamos acompanhando uma revolução na área de TI, onde temos novas soluções, produtos e equipamentos surgindo a cada dia, sendo necessária ao profissional atuante na área, uma atualização freqüente.
Deve ficar claro que, tanto o profissional da área de suporte/infra-estrutura quanto o da área de desenvolvimento/sistemas precisam estar preparados para esse competitivo e difícil mercado atual, que é carente de mão de obra de qualidade. Nesse contexto, vamos analisar a situação do Técnico em Informática, profissional de suma importância e cujo perfil vem mudando desde a abertura do mercado no início dos anos 90, onde sua atuação se baseava na montagem/instalação e configuração dos micros, sendo muito requisitado devido ao fato da escassez de técnicos especializados no mercado.
Com o passar do tempo as redes locais nas empresas foram surgindo, os sistemas operacionais e softwares mais bem elaborados e os bons técnicos precisaram se adequar. Hoje em dia, temos as redes sem fio, programa de incentivo do governo que geraram uma venda de micros nunca vista no país e a popularização do Linux, com isso o técnico precisa novamente buscar atualização para sobreviver nesse mercado onde existe uma ploriferação de "técnicos" formados através de fóruns de discussão e revistas do tipo "faça você mesmo".
Para discutir sobre o assunto, conversaremos com o Laércio Vasconcelos, que sem dúvida alguma se trata da maior referência no assunto, levando conhecimento à uma legião de técnicos através dos seus livros, cursos e site (
www.laercio.com.br). Vamos conhecer um pouco mais sobre seu trabalho, que foi pioneiro e marcou uma época.

01. Laércio, fale um pouco sobre você e sua carreira.Sou engenheiro eletrônico formado em 1983 pelo IME, trabalhei vários anos com projetos de hardware, software básico e a partir de 1990 com treinamento e publicação de livros de informática.
Sou engenheiro eletrônico formado em 1983 pelo IME, trabalhei vários anos com projetos de hardware, software básico e a partir de 1990 com treinamento e publicação de livros de informática.

02. Nos anos 80 e inicío dos anos 90, o grau de complexidade do serviço do técnico de informática era bastante alto, exigindo do técnico um elevado conhecimento e dedicação. Ao mesmo tempo em que a hora técnica era bem mais alta e o técnico bem mais valorizado. Não existia internet para acesso público ou revistas explicando o passo-a-passo das tarefas. Conte um pouco dessa época.
Os anos 70 foram a pré-história dos microcomputadores, os anos 80 foram a idade média. Muita coisa precisava ser feita pelo próprio usuário. Por exemplo, comprava-se um micro sem software algum, e o usuário desenvolvia os programas necessários, e linguagem BASIC na maioria dos casos. A computação profissional já estava muito evoluída, baseada em mainframes. Mas na microinformática, muita coisa precisava ser feita. Os micros tipo PC eram caríssimos. A computação pessoal era baseada em micros mais simples, de uso doméstico, como MSX e similares. O técnico precisava ser um estudioso. Tinha que estudar para entender e resolver os problemas. Hoje um técnico pode entrar em um fórum e pedir uma dica aos participantes para solucionar um determinado problema. Esse é um ponto positivo, pois assim acabam resolvendo muitos problemas. Infelizmente muitos basearam sua formação em estudos do tipo "aprendi na Internet", ao invés de usá-la como um complemento para divulgação de conhecimentos, macetes e notícias atualizadas. Existe deficiência de formação sólida.
03. Um pouco depois, você criou o seu curso...

Observando a evolução dos PCs "montados", percebi a época na qual o usuário podia comprar todas as peças e montar sozinho seu próprio PC. Isso foi por volta de 1990. Antes disso, era complicado. Não existiam lojas e peças, era tudo feito por "importabandistas". A montagem de micros era feita somente por técnicos especializados. Percebi a partir de 1990 que era possível transmitir a um usuário comum, os conhecimentos mínimos de hardware necessários a uma montagem com sucesso. O que ajudou muito no sucesso desse trabalho era a economia feita quando o usuário montava seu próprio micro. Ficava de duas a três vezes mais barato. Criei apostilas para esses cursos, que depois evoluíram e viraram livros.

04. Você formou uma geração de técnicos com seus livros, sendo autor de mais de 40 títulos. Quais livros você recomenda para os que estão começando e quais para os que já atuam na área e desejam especialização?
Atualmente meus livros são divididos em três séries, dependendo do perfil do usuário. Temos a "série profissional", para quem já atua na área e quer uma especialização, ou para quem está começando a estudar mais a fundo. São livros com 500 a 900 páginas, adotados por diversas escolas técnicas. A série "dominando o micro" tem livros de 300 a 400 páginas, voltada a estudantes iniciantes e usuários que querem ter bons conhecimentos, mas não necessariamente trabalhar usando os conhecimentos aprendidos, seria uma espécie de "faça você mesmo" avançado. Finalmente, a série "Por dentro do micro" tem livros na faixa de 200 páginas, e é voltada a usuários domésticos que estão iniciando em informática e não querem ficar totalmente por fora do assunto. O foco dessa série é a inclusão digital, já que os livros têm preços bastante atraentes, abaixo de 30 reais.

05. Hoje em dia, ao abrirmos os classificados dos cadernos de informática dos jornais, vemos "técnicos" oferecendo seus serviços por valores como 20 ou 30 reais. Como deve ser o cálculo do valor a ser cobrado? Qual é a melhor forma, por hora ou por atendimento?

Um bom eletricista ou bombeiro vai cobrar de 50 a 150 reais para fazer um serviço simples, executado em 4 horas. Infelizmente na área de hardware, muitos fizeram cursos com enfoque de "conserte você mesmo seu micro", com carga horária baixa, e os usaram como cursos profissionalizantes. Uma profissão não é aprendida em 50 horas de aula. Como resultado temos uma legião de técnicos despreparados. Isso deturpou o sentido da palavra "técnico" - um profissional que fez um curso de segundo grau, em 3 anos, com pelo menos 1/3 da carga horária total voltada para a profissionalização, e o restante com matemática, inglês, português, física, etc. O grande público iniciante em informática também não sabe a diferença entre um técnico que fez um curso de 3 anos e um que fez um curso de 50 horas. Como resultado, esses técnicos de má formação encontram espaço no mercado de trabalho, mas como são muitos, acabam cobrando valores irrisórios. Os bons técnicos saem da área porque não irão trabalhar cobrando 20 reais a visita. Estamos falando de preços nos grandes centros, como Rio e São Paulo. É claro que em uma cidade do interior, tudo é mais barato, e um técnico que cobra 20 reais e faz duas visitas por dia conseguirá se sustentar, e até pagar uma faculdade à noite.
06. No ponto de vista do técnico de informática, atualmente, trabalhar autônomo ou funcionário de uma empresa?

Para quem é estudioso e dedicado, o ideal é uma fase de formação profissional, seguida por estágio ou trabalho em uma empresa, e finalmente partir para o trabalho por conta própria. Financeiramente é a melhor opção para quem tem mais disposição para o trabalho.
07. Sabemos que todo bom técnico possui o ferramental adequado para realizar seu trabalho. O que você recomenda em termos de hardware e software?

Para começar, kit de ferramentas completo e multímetro digital. Depois, peças sobressalentes de todos os tipos. Em software é bom fazer uma coletânea de programas que ajudam na manutenção, como backup, diagnóstico, medida de performance, recuperação de dados.

08. Como você analisa o crescimento e a adoção do Linux no mercado? Acredita ser uma ameaça à Microsoft ou a coexistência é possível e ideal?
A Microsoft tem uma força comercial muito grande. Existem mais pessoas que sabem Windows que pessoas que sabem Linux. O Windows custa na calçada, "10 real", e a venda é liberada. O usuário iniciante tem grande probabilidade de apagar seu Linux que vei no seu micro de 800 reais e instalar o Windows pirata. Por outro lado, no ramo corporativo, o LINUX tem sido utilizado com sucesso, e acredito que aí sim existirá uma coexistência pacífica, e em certos setores uma predominância de soluções baseadas em Linux.

09. Vivemos um momento único no país, onde devido à iniciativas e programas do governo, a venda de microcomputadores cresce a cada dia, com vantagens como condições facilitadas de pagamento e suporte aprimorado oferecido pelas empresas. Como o Técnico de Informática deve se posicionar com relação a isso? Trata-se de uma oportunidade ou está sendo declarada a morte do técnico que trabalha de forma autônoma?

Acho que os técnicos vão ter muito serviço graças a essa popularização. O micro barato vai ter sua garantia finalizada um ano depois da compra. As empresas não estão interessadas em ganhar dinheiro com assistência técnica. Esse ramo de atividade fica então disponível a pequenas empresas de assistência técnica, e também a técnicos autônomos. Quem compra um micro barato hoje não vai trocá-lo depois de um ano. Podemos considerar uma média razoável de 3 anos. O micro ficaria 2 anos descoberto por garantia, sendo necessários os serviços de um técnico em caso de falha.
10. Já a algum tempo as certificações fazem parte do cotidiano dos profissionais de TI. Muito difícil encontrarmos hoje uma oferta de emprego onde não seja exigida alguma certificação. Você considera as certificações indispensáveis?

Considero as certificações indispensáveis para cada área de atuação. Em uma vaga para trabalhar com sistemas Microsoft, é preciso ter certificações Microsoft, e assim por diante. Infelizmente a certificação de hardware A+ não é muito conhecida no Brasil, é pouco exigida pelas empresas, e por isso os técnicos não procuram obtê-la. Mas se um técnico tem essa certificação e a apresenta ao concorrer a uma vaga, certamente seu peso será grande.

11. Fale um pouco sobre seu portal (
www.laercio.com.br), sua equipe e seus projetos futuros. Livros novos? Onde podemos encontrar o Laércio Vasconcelos?
O site é voltado para publicação de artigos técnicos, algumas análises de produtos, eventualmente capítulos inteiros de meus livros. Serve também como loja virtual para venda de meus livros. Grande parte das livrarias hoje em dia não trabalha mais com livros de informática. O leitor acaba ficando sem acesso a esses livros, felizmente é sempre possível comprar qualquer um deles na Internet. O principal projeto futuro (e presente) é produzir livros com boa qualidade técnica e baixo custo, para aqueles que querem aprender informática. Devido à natureza do meu trabalho, fico na maior parte do tempo escondido no meu laboratório, pois preciso de muita concentração. Mas eventualmente estou também no meu escritório do Edifício Avenida Central (Av. Rio Branco, 156), sala 1228.

12. O que você tem a dizer e recomendar aos que pretendem iniciar na carreira de técnico de informática? Quais as tecnologias que você acredita ser indispensável para o conhecimento dos técnicos?
Acompanhar a evolução dos processadores, memórias, discos, chipsets, arquitetura em geral. Conhecer bem as redes, incluindo aí as redes Wi-Fi. O conhecimento do inglês é muito importante, não precisa em um primeiro momento, saber falar ou assistir filmes sem legenda. Mas é preciso saber ler manuais técnicos e consultar informações em sites de fabricantes. E para quem vai trabalhar em uma empresa, o conhecimento da nossa boa e velha língua portuguesa é fundamental. Um técnico conhecido participou de um processo de seleção para uma empresa, e entre suas atribuições, responder e-mails de clientes, por isso teve que fazer uma redação. Ele perdeu a vaga porque escreveu: "... aviso diante mão que o seu munitor pare-se estar queimado...".


Disponível em: http://imasters.uol.com.br/artigo/6998

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